24.6.07

O Novo Realismo



O novo realismo busca ir “além da pintura” é um estado de espírito, o gesto fundamental de apropriação do real contemporâneo ligado a um fenômeno quantitativo de expressão, um ponto de vista , uma “higiene da visão”. Trás uma nova metodologia de percepção , um novo modo de ver baseado na constatação de uma natureza moderna e na rejeição da abstração livre da época, a fim de fazer uso dos objetos disponíveis em geral do material proveniente do ambiente urbano.
Este método de percepção e comunicação do sensível, através da impregnação energética, a serviço de uma intuição cósmica é originalmente uma idéia de Yves Klein.
Já a vontade de integrar a técnica industrial à metamorfose do cotidiano parte de Jean Tinguely.
No entanto todos os novos realistas tem o senso do espetáculo, a preocupação de recuperar poeticamente as formas de expressão - das linguagens visuais - através de manifestos e de exaltar o maravilhoso na arte moderna. Para isso, inseridos no mundo contemporâneo, baseiam sua visão das coisas no senso da natureza moderna , que é o da fábrica , o da cidade , da publicidade, dos “mass media”, da ciência e da técnica.
Com a necessidade de assumir certas escolhas em comum foi fundado o grupo dos novos realistas, que se anunciaram ao mundo - com uma declaração escrita pelo crítico Pierre Restany - no dia 27 de outubro de 1960, em Paris, no apartamento de Yves Klein. O grupo contava com a presença de Arman , Dufrêne, Hains, Martial Raysse, Spoerri, Tinguely, Villeglé e Klein. César e Rotella , que haviam sido convidados, não estavam presentes mas participaram das sucessivas manifestações do grupo, às quais se uniram a seguir Niki de Saint-Phalle (1961), Chisto e Deschamps (1962). Na ocasião foram feitos sete manuscritos originais da declaração em papel azul, um em folha de ouro (menogold) e um em folha rosa (menopink).
Em torno do pólo Klein - com seu misticismo, domínio das sensibilidades e sua teoria de comunicação por impregnação - reuniram-se os membros da escola de Nice: Arman e Martial Raysse. Arman, com sua lógica rigorosa de uma linguagem quantitativa e Martial Raysse, com uma sofisticação da natureza procuravam, junto com Klein, definir um modo geral de comunicação, uma síntese da expressão. Mais tarde se unem a eles César, com suas compressões e Chisto, especialista em pacotes.
Ao redor de Tinguely - cujo trabalho é voltado para o movimento e as máquinas - haviam se reunido os técnologos da metamorfose, os registros de nosso mundo industrial: Spoerri, com seus quadros armadilha e Niki de Saint-Phalle, com os relevos-alvo (pinturas feitas com espingarda).
Em torno de Raymond Hains estavam os “voyeurs-poetas”: Villeglê, o companheiro de observação de Hains, Dufrêne poeta ultraletrista e Deschamps, mestre do “patchwork”
O 1o manifesto do Novo Realismo, em Milão, fazia uma enfatização à apropriação do real. O 2o manifesto, Paris - 1961, trazia a descoberta do folclore industrial contemporâneo e suas possibilidades expressivas ligadas ao senso da natureza moderna; os “ready-made” dadaístas foram elevados ao maravilhoso moderno. Já o 3o manifesto, publicado no festival de Munique em 1963, falava sobre a arte da assemblage, arte cinética, a superação dos gêneros tradicionais e uma estética do objeto no seu condicionamento espacial.
O 1o festival do novo realismo, Nice 1961, se dividiu em duas partes uma amostra na galeria Muratore e uma série de ações-espetáculo “happenings ante litteram”, realizados nos jardins da Abadia de Rosseland.
Em 1963 aconteceu em Munique o 2o festival, que consistia em uma mostra + ação, buscando acentuar ainda mais o aspecto espetacular dos novos realistas.
Segundo Pierre Restany “Aquilo que os liga para sempre .. é a consciência de terem ido juntos até o fundo de uma verdade, isso é, de uma prova da sensibilidade e de uma estrutura da visão. ... esses encontros não poderiam deixar de ocorrer, e se produzem no exato momento em que se devem produzir. É justamente isso que explica a extraordinária eficácia da ação coletiva dos novos realistas e ao mesmo tempo a sua brevidade.”
Após à morte de Klein aos poucos acabam-se as demonstrações polemicas, os testemunhos e os manifestos.


Yves Klein – O Monocromático

No dia 28 de abril de 1928, em Nice, nasce o filho de Frédéric Klein, paisagista e de Marie Raymond, pintora da Art informel. Yves viveu em Paris de 1930 à 1939 e costumava passar os verões em Cagnes-sur-Mer.
Termina os estudos em plena Segunda Guerra Mundial e começa a pintar. Desde cedo, Klein, usa a cor e rejeita as linhas e desenhos. No entanto é só na década de 50 que vai se destacar.
Fora da França as pinturas azuis - “meditação perante a cor do céu” - ficaram mais famosas.
Em 1947 conhece Claude Pascal e Armand Fernandez. Se tornam grandes amigos e juntos praticam alquimia,, Judô, meditação, tocam jazz, dançam e planejam viajar o mundo.
Após terminar o serviço militar Yves parte para a Inglaterra com Claude e em Londres (1949- 1950) aprende técnicas com Robert Savage (amigo de seu pai).
Em 1952 depois de passar pela Itália (onde já havia estado em 48) e pela Espanha segue para o Japão, onde apresenta painéis monocromáticos - numa exposição particular.
Na sua primeira exposição pública, em Paris (1955), o conceito de Klein - “A cor pura representa por si própria algo” - não convenceu e embora ele acreditasse que as cores tivessem vida própria o público via, em sua obra, apenas um “arranjo arquitetônico de cores”.
Em fevereiro de 1956, já na segunda exposição são explicadas as propostas monocromáticas e a aceitação é bem maior. Em agosto do mesmo ano o artista participa do Festival de Arte de Vanguarda, em Marselha.
A fase mais marcante de Yves Klein foi, sem dúvida, a Época Azul, onde ele na “Busca da infinitude” tenta “unir o céu e a terra”. É nesta época que se aprofunda sua busca monocromática (agora apenas com o azul).
A primeira exposição da proposta monocromática - época azul - ocorreu em 1957 em Milão, depois foi para Paris, Düsseldorf e Londres. Yves (“o monocromático”) alcança o sucesso, como se colocasse sua assinatura no céu.
No seu trigésimo aniversário, em Paris, inaugura uma exposição que levou o nome de “O Vazio”. Onde buscou retratar a “Época Pneumática” retirando toda a mobília da galeria e pintando as paredes de branco.
Arman (Armand Fernandez), dois ano mais tarde, apresenta a exposição “O Cheio” - como resposta - ocupando a galeria até o teto com objetos.
Na terceira crise cardíaca, em 6 de Junho de 1962, Yves Klein morre.


Armand Fernandez

Nascido em Nice, 1929, Arman até 1956 é um pintor de Domingo - passando da paisagem fauve ao pós-cubismo abstrato. Sua primeira mostra parisiense (na Galeria Haut-Pavé) fecha este primeiro capitulo insignificante em sua carreira.
Abandonando progressivamente a pintura de cavalete, Arman, descobre aos poucos a linguagem da quantidade e se revela à pré-história do Novo realismo. Concluirá o cerco apresentando o “Cheio” na Galeria Iris Clert.
Daí em diante tudo se coordena, dos cachets (selos) às acumulações, das allures (aparências) às colères e coupes (utensílios domésticos, móveis, instrumentos musicais quebrados ou cortados em vários pedaços). Esses objetos são aprisionados em poliéster transparente colado em uma massa.
A partir de 1960 constrói uma obra monumental, a ilustração das teorias do novo realismo, que vai do automóvel explodido com dinamite à combustão de um piano. Depois de 1963 conduz entre a Europa e Nova York uma estrepitosa carreira.
Conquistou em 1955 o prêmio Marsotto, pela pintura européia e representou a França na Bienal de Veneza, em 1968.
De 1967 à 1969 encontra na Renault a abertura para fazer uma série de acumulações, que colocada no pavilhão francês da exposição universal de Montreal.


Christo

Chisto Javacheff - nascido em 1935 - é um escultor e designer búlgaro, que a partir de 1964 passa a morar em Nova York. Trabalhou em muitos lugares pelo mundo fazendo a interação entre os avanços tecnológicos do séc. XX, da era industrial, com a era pós-industrial e com uma fome de por beleza e pela natureza.
Teve a idéia é interferir na paisagem usando “materiais reais num mundo real” quando ainda era estudante da Academia de Artes em Sofia. No entanto não trabalha exclusivamente no mundo selvagem.
Com uma engenharia criativa e intuitiva enfrenta problemas por ter que tomar cuidado para não causar impactos ambientais e nem interferir nas atividades diária das cidades, onde realiza suas obras. É conhecido principalmente como criador da arte da “empaquetage”, que consiste em embalar objetos familiares com plano, lona ou plástico transparente, elevando-os à categoria de obra de arte.
Em 1958 fez seu primeiros objetos empacotados, que inicialmente tratavam-se de coisas pequenas. Com o tempo os objetos escolhidos foram se tornando cada vez maiores e mais pretensiosos. Embalou vitrines, árvores, carros, monumentos arquitetônicos e até contornou ilhas.
Segundo sua teoria a embalagem transforma temporariamente os objetos praticamente escondendo-os e chama a atenção para as formas fundamentais sob a embalagem. Para ele não é o que o artista faz mas assim o que ele aponta que dá real valor à obra.
O trabalho final questiona a noção de permanência da arte , pois suas esculturas, ao ar livre, tem uma vida limitada proposital e duram por no máximo duas semanas.
É preciso lembrar que Christo passou anos pedindo permissões, para órgãos públicos e para proprietários particulares, para poder realizar suas obras. E segundo ele o progresso e processo de cada projeto é parte fundamental da escultura final.


César

A primavera de 1960 foi, sem dúvida, muito importante para César que teve a oportunidade de expor um dos seus trabalhos, denominado “As Compressões”, no Salão de Maio em Paris.
Essas compressões evidenciam a passagem de um artífice clássico (formado com escultor tradicional) a uma dimensão superior da visão e também o possibilitam compreender a nova fase do metal. Foram dois anos de estudo, pesquisando as possibilidades do material – compressões controladas – no entanto o artista rejeitava fazer uma receita de linguagem ou estilo.
Este período produtivo de César durou até 1962, quando entrou em crise, só retomando seu trabalho em 1964.
Cinco anos depois criou uma escultura, de dois metros, de seu polegar e mais tarde um seio feminino. A marca humana foi só uma fase.
Em 1967 César apresentou uma nova etapa de trabalho, “As Expansões”, que consistiam em grandes pingos de poliuretano cristalizados no ar - eram formas simples e belas.
A expansões públicas percorreram muitas cidades pelo mundo - Paris, Rio de Janeiro, Montevidéu, Londres e outras.
Em 1970 expôs, no Centro Internacional de Artes Contemporânea de Paris, expôs expansões plásticas monumentais.
O escultor faleceu em 1998 aos 77 anos de idade.

__________________________________



-> O Vazio

A exposição, do dia 28 de abril de 1958 na Galeria Iris Clert - Paris, de paredes rigorosamente nuas trata de uma etapa fundamental no desenvolvimento da obra de Yves Klein.
As paredes do espaço foram pintadas de branco, com a mesma técnica utilizada em seus quadros monocromáticos, para ressaltar a luminosidade e captar a vida desta “não cor”.
Para Pierre Restany “O maravilhoso de Klein é a natureza e seu teatro de eventos.
“Cada acontecimento, manifestação da energia universal, é uma obra real como toda a natureza, mesmo se se coloca momentaneamente no exterior das dimensões dos nossos sentidos, no real absoluto, o espaço infinito, o vazio.”
O vazio representa a totalidade espacial, de uma realidade ao mesmo tempo tangível e incomensurável. Esta realidade, desmedida, identifica-se com o espaço conceitual da comunicação.
O que se torna relevante é a passagem da monocromia ao imaterial. Talvez esta passagem tenha se dado anteriormente quando Klein, ainda jovem, perdia o olhar entre o céu e o mar. Ele se apropriava do céu, de sua cor e dimensão de infinito.

O Vazio, 1958 - Galeria Iris Clert




Wall of Oil Barrels ->

Na noite de 27 de Junho de 1962, durante 8 horas, Christo e Jeanne Claude fecharam a rua Visconti - a mais estreita de Paris - para o tráfego, cortando a ligação entre as ruas Bonaparti e Sein.
A obra tinha 240 tambores de óleo (cada um com capacidade 50L) e a media da rua, de 3,8 metros.
Os artistas optaram pôr não alterar as cores industriais dos tambores, deixando visíveis os escritos e a oxidação
O projeto para esse trabalho foi feito em 1961, junto com outros protestos que ocorriam em Paris devido a Guerra e a construção do Muro de Berlim.
Essa obra se relaciona a um período de arte pública e à transformação de uma rua em extremidade inoperante. Este princípio pode estender-se a uma área inteira ou a uma cidade ira.

Wall of Oil Barrels, 1962 - Tambores de capacidade 50L, ( várias cores), empilhados formando uma parede de ferro de 4,3 x 3,8 x 1,7 metros (14 x 12,5 x 5,6 pés). - Musée d'Art Moderne de la Ville, Paris


Um comentário:

Anônimo disse...

um bom apanhado sobre o assunto, parabéns, abraço