24.6.07

Inhotim / CACI - Um universo paralelo

Como vamos falar, neste blog, sobre a arte contemporânea... Infelizmente não dá para evitar... Vou falar um pouco sobre o Inhotim - Centro de Arte Contemporânea Brumadinho (previamente conhecido como CACI).

Antes de mais nada, é bom deixar muito claro que sou completamente contra qualquer museu que cobre entrada. Afinal, se a arte busca se comunicar com o público, não devem existir barreiras financeiras.

Claro, claro... Vamos ao CACI e não se preocupe... O pagamento pode ser feito em "dinheiro, cheque ou cartão de crédito Visa" segundo eles; não são gentís?!

O Inhotim integra arte e natureza. Fica localizado em Brumadinho, aproximadamente 60Km de Belo Horizonte (MG) – o que dá mais ou menos 1h15min de viagem – pelo acesso km 640 da BR-381. O museu apresenta sete espaços dedicados a exposições e 350 mil m² de jardins planejados.
As exposições são organizadas de tal forma que cada uma das galerias apresente um mundo independente. Aliás, o próprio CACI é um mundo independente. Para chegar lá é preciso passar por ruas de terra e lugares muito pobres. Logo na entrada, da fazenda, estão as palmeiras imperiais anunciando uma outra dimensão, um universo paralelo.
São mais de 60 artistas e um acervo de, aproximadamente, 300 obras produzidas apartir dos anos 60.

Os pavilhões abrigam exposições permanentes de Tunga e Cildo Meireles. “Na Galeria Praça, há salas individuais dedicadas a Albert Oehlen, Ernesto Neto, Franz Ackermann, Iran do Espírito Santo, Janet Cardiff e Jarbas Lopes. Uma seqüência de trabalhos que lidam com a temática do corpo e da arquitetura está presente na Galeria Mata, reunindo obras de Damián Ortega, Janine Antoni, José Damasceno, Laura Lima, Luisa Lambri e Valeska Soares. A Galeria Lago está dividida em quatro grandes instalações de Artur Barrio, Chris Burden, Hélio Oiticica & Neville D’Almeida e Navin Rawanchaikul & Rirkrit Tiravanija. Obras de Anri Sala, Larry Clark, Michel Majerus, Nuno Ramos, Paul McCarthy e Tobias Rehberger compõem uma mostra coletiva na Galeria Fonte.”
“Uma série de projetos especialmente comissionados por Inhotim estão atualmente em andamento e envolvem artistas como Doug Aitken, Matthew Barney, Carrol Dunham, Doris Salcedo e Adriana Varejão”- Sim! Adriana Varejão é esposa do Bernardo Paz, proprietário da companhia mineradora Itaminas e dono do CACI.

Algumas obras:


Albert Oehlen

José Damaceno




Dan Graham

Jarbas Lopes



Hélio Oiticica & Neville D'Almeida

Chisto & Jeanee-Claude


Chisto Javacheff - nascido em 1935 - é um escultor e designer búlgaro, que a partir de 1964 passa a morar em Nova York. Trabalhou em muitos lugares pelo mundo fazendo a interação entre os avanços tecnológicos do séc. XX, da era industrial, com a era pós-industrial e com uma fome por beleza e pela natureza.
Teve a idéia é interferir na paisagem usando “materiais reais num mundo real” quando ainda era estudante da Academia de Artes em Sofia. No entanto não trabalha exclusivamente ao ar livre.
Com uma engenharia criativa e intuitiva enfrenta problemas por ter que tomar cuidado para não causar impactos ambientais e nem interferir nas atividades diária das cidades, onde realiza suas obras. É conhecido principalmente como criador da arte da “empaquetage”, que consiste em embalar objetos familiares com plano, lona ou plástico transparente, elevando-os à categoria de obra de arte.
Em 1958 fez seus primeiros objetos empacotados que, inicialmente, tratavam-se de coisas pequenas. Com o tempo os objetos escolhidos foram se tornando cada vez maiores e mais pretensiosos. Embalou vitrines, árvores, carros, monumentos arquitetônicos e até contornou ilhas.
Segundo sua teoria a embalagem transforma temporariamente os objetos praticamente escondendo-os e chama a atenção para as formas fundamentais sob a embalagem. Para ele não é o que o artista faz, mas assim o que ele aponta que dá real valor à obra.
O trabalho final questiona a noção de permanência da arte; pois suas esculturas, ao ar livre, tem uma vida limitada proposital e duram por no máximo duas semanas.
É preciso lembrar que Christo passou anos pedindo permissões, para órgãos públicos e para proprietários particulares, para poder realizar suas obras. E segundo ele o progresso e processo de cada projeto é parte fundamental da escultura final.

Wall of Oil Barrels

Na noite de 27 de Junho de 1962, durante 8 horas, Christo e Jeanne Claude fecharam a rua Visconti – uma das mais estreitas de Paris - para o tráfego, cortando a ligação entre as ruas Bonaparti e Sein.
A obra tinha 240 tambores de óleo (cada um com capacidade 50L) e a media da rua, de 3,8 metros.
Os artistas optaram pôr não alterar as cores industriais dos tambores, deixando visíveis os escritos e a oxidação.
O projeto para esse trabalho foi feito junto com outros protestos e barricadas, que ocorriam em Paris, devido a Guerra e a construção do Muro de Berlim, em agosto de 1961.
Essa obra se relaciona a um período de arte pública e à transformação de uma rua em extremidade inoperante. Este princípio pode estender-se a uma área inteira ou a uma cidade inteira.

Wall of Oil Barrels - 1962
Tambores de capacidade 50L, ( várias cores), empilhados formando uma parede de ferro de 4,3 x 3,8 x 1,7 metros (14 x 12,5 x 5,6 pés).
Musée d'Art Moderne de la Ville
Paris


Wrapped Kunsthalle

O museu suíço Kunsthalle em Bern, durante a comemoração dos seus cinqüenta anos, deu aos artistas a primeira oportunidade de empacotar um edifício inteiro - em Julho de 1968,
O prédio foi envolvido com 2430 metros quadrados de polietileno. E amarrado com 3050 metros de corda de nylon. Em frente à entrada principal foi feita uma fenda, para que os visitantes pudessem entrar. O processo de empacotamento demorou seis dias, com a ajuda e onze trabalhadores. O museu foi desembrulhado após uma semana.

Wrapped Kunsthalle - Bern, Suíça - 1967-68



Wrapped Reichstag

No dia 24 de junho de 1995, com 90 escaladores profissionais e 120 trabalhadores, o embrulho do parlamento alemão foi terminado. O Reichstag permaneceu assim por 14 dias, depois todo o material usado foi reciclado.
Foram usados 100000 metros quadrados de tecido de polipropileno, com uma superfície de alumínio e 15600 metros de corda azul, de polipropileno, com diâmetro de 3.2 cm.
O trabalho foi todo financiado pelo casal de artistas, assim como os outros projetos, através da venda de estudos preparatórios, desenhos, colagens, maquetes e litografias.
Após 24 anos de luta, finalmente, em 1994 o parlamento alemão debateu durante 70 minutos e - com 292 votos a favor, 223 contra e 9 abstenções - autorizou o projeto.


Wrapped Reichstag, Berlin 1971-95


The Gates

O último grande trabalho, de Chisto & Jeanee-Claude, finalizado em 2005.


The Gates, Central Park, Nova Iorque, 1979-2005.
7530 portões. Com 4.87 m x 1.68 – 5.48 m x 37 km

Over The River

O próximo trabalho...

Projeto para o rio de Arkansas, no Colorado

Veja mais detalhes no site oficial do casal: http://www.christojeanneclaude.net/

Mavi

O Novo Realismo



O novo realismo busca ir “além da pintura” é um estado de espírito, o gesto fundamental de apropriação do real contemporâneo ligado a um fenômeno quantitativo de expressão, um ponto de vista , uma “higiene da visão”. Trás uma nova metodologia de percepção , um novo modo de ver baseado na constatação de uma natureza moderna e na rejeição da abstração livre da época, a fim de fazer uso dos objetos disponíveis em geral do material proveniente do ambiente urbano.
Este método de percepção e comunicação do sensível, através da impregnação energética, a serviço de uma intuição cósmica é originalmente uma idéia de Yves Klein.
Já a vontade de integrar a técnica industrial à metamorfose do cotidiano parte de Jean Tinguely.
No entanto todos os novos realistas tem o senso do espetáculo, a preocupação de recuperar poeticamente as formas de expressão - das linguagens visuais - através de manifestos e de exaltar o maravilhoso na arte moderna. Para isso, inseridos no mundo contemporâneo, baseiam sua visão das coisas no senso da natureza moderna , que é o da fábrica , o da cidade , da publicidade, dos “mass media”, da ciência e da técnica.
Com a necessidade de assumir certas escolhas em comum foi fundado o grupo dos novos realistas, que se anunciaram ao mundo - com uma declaração escrita pelo crítico Pierre Restany - no dia 27 de outubro de 1960, em Paris, no apartamento de Yves Klein. O grupo contava com a presença de Arman , Dufrêne, Hains, Martial Raysse, Spoerri, Tinguely, Villeglé e Klein. César e Rotella , que haviam sido convidados, não estavam presentes mas participaram das sucessivas manifestações do grupo, às quais se uniram a seguir Niki de Saint-Phalle (1961), Chisto e Deschamps (1962). Na ocasião foram feitos sete manuscritos originais da declaração em papel azul, um em folha de ouro (menogold) e um em folha rosa (menopink).
Em torno do pólo Klein - com seu misticismo, domínio das sensibilidades e sua teoria de comunicação por impregnação - reuniram-se os membros da escola de Nice: Arman e Martial Raysse. Arman, com sua lógica rigorosa de uma linguagem quantitativa e Martial Raysse, com uma sofisticação da natureza procuravam, junto com Klein, definir um modo geral de comunicação, uma síntese da expressão. Mais tarde se unem a eles César, com suas compressões e Chisto, especialista em pacotes.
Ao redor de Tinguely - cujo trabalho é voltado para o movimento e as máquinas - haviam se reunido os técnologos da metamorfose, os registros de nosso mundo industrial: Spoerri, com seus quadros armadilha e Niki de Saint-Phalle, com os relevos-alvo (pinturas feitas com espingarda).
Em torno de Raymond Hains estavam os “voyeurs-poetas”: Villeglê, o companheiro de observação de Hains, Dufrêne poeta ultraletrista e Deschamps, mestre do “patchwork”
O 1o manifesto do Novo Realismo, em Milão, fazia uma enfatização à apropriação do real. O 2o manifesto, Paris - 1961, trazia a descoberta do folclore industrial contemporâneo e suas possibilidades expressivas ligadas ao senso da natureza moderna; os “ready-made” dadaístas foram elevados ao maravilhoso moderno. Já o 3o manifesto, publicado no festival de Munique em 1963, falava sobre a arte da assemblage, arte cinética, a superação dos gêneros tradicionais e uma estética do objeto no seu condicionamento espacial.
O 1o festival do novo realismo, Nice 1961, se dividiu em duas partes uma amostra na galeria Muratore e uma série de ações-espetáculo “happenings ante litteram”, realizados nos jardins da Abadia de Rosseland.
Em 1963 aconteceu em Munique o 2o festival, que consistia em uma mostra + ação, buscando acentuar ainda mais o aspecto espetacular dos novos realistas.
Segundo Pierre Restany “Aquilo que os liga para sempre .. é a consciência de terem ido juntos até o fundo de uma verdade, isso é, de uma prova da sensibilidade e de uma estrutura da visão. ... esses encontros não poderiam deixar de ocorrer, e se produzem no exato momento em que se devem produzir. É justamente isso que explica a extraordinária eficácia da ação coletiva dos novos realistas e ao mesmo tempo a sua brevidade.”
Após à morte de Klein aos poucos acabam-se as demonstrações polemicas, os testemunhos e os manifestos.


Yves Klein – O Monocromático

No dia 28 de abril de 1928, em Nice, nasce o filho de Frédéric Klein, paisagista e de Marie Raymond, pintora da Art informel. Yves viveu em Paris de 1930 à 1939 e costumava passar os verões em Cagnes-sur-Mer.
Termina os estudos em plena Segunda Guerra Mundial e começa a pintar. Desde cedo, Klein, usa a cor e rejeita as linhas e desenhos. No entanto é só na década de 50 que vai se destacar.
Fora da França as pinturas azuis - “meditação perante a cor do céu” - ficaram mais famosas.
Em 1947 conhece Claude Pascal e Armand Fernandez. Se tornam grandes amigos e juntos praticam alquimia,, Judô, meditação, tocam jazz, dançam e planejam viajar o mundo.
Após terminar o serviço militar Yves parte para a Inglaterra com Claude e em Londres (1949- 1950) aprende técnicas com Robert Savage (amigo de seu pai).
Em 1952 depois de passar pela Itália (onde já havia estado em 48) e pela Espanha segue para o Japão, onde apresenta painéis monocromáticos - numa exposição particular.
Na sua primeira exposição pública, em Paris (1955), o conceito de Klein - “A cor pura representa por si própria algo” - não convenceu e embora ele acreditasse que as cores tivessem vida própria o público via, em sua obra, apenas um “arranjo arquitetônico de cores”.
Em fevereiro de 1956, já na segunda exposição são explicadas as propostas monocromáticas e a aceitação é bem maior. Em agosto do mesmo ano o artista participa do Festival de Arte de Vanguarda, em Marselha.
A fase mais marcante de Yves Klein foi, sem dúvida, a Época Azul, onde ele na “Busca da infinitude” tenta “unir o céu e a terra”. É nesta época que se aprofunda sua busca monocromática (agora apenas com o azul).
A primeira exposição da proposta monocromática - época azul - ocorreu em 1957 em Milão, depois foi para Paris, Düsseldorf e Londres. Yves (“o monocromático”) alcança o sucesso, como se colocasse sua assinatura no céu.
No seu trigésimo aniversário, em Paris, inaugura uma exposição que levou o nome de “O Vazio”. Onde buscou retratar a “Época Pneumática” retirando toda a mobília da galeria e pintando as paredes de branco.
Arman (Armand Fernandez), dois ano mais tarde, apresenta a exposição “O Cheio” - como resposta - ocupando a galeria até o teto com objetos.
Na terceira crise cardíaca, em 6 de Junho de 1962, Yves Klein morre.


Armand Fernandez

Nascido em Nice, 1929, Arman até 1956 é um pintor de Domingo - passando da paisagem fauve ao pós-cubismo abstrato. Sua primeira mostra parisiense (na Galeria Haut-Pavé) fecha este primeiro capitulo insignificante em sua carreira.
Abandonando progressivamente a pintura de cavalete, Arman, descobre aos poucos a linguagem da quantidade e se revela à pré-história do Novo realismo. Concluirá o cerco apresentando o “Cheio” na Galeria Iris Clert.
Daí em diante tudo se coordena, dos cachets (selos) às acumulações, das allures (aparências) às colères e coupes (utensílios domésticos, móveis, instrumentos musicais quebrados ou cortados em vários pedaços). Esses objetos são aprisionados em poliéster transparente colado em uma massa.
A partir de 1960 constrói uma obra monumental, a ilustração das teorias do novo realismo, que vai do automóvel explodido com dinamite à combustão de um piano. Depois de 1963 conduz entre a Europa e Nova York uma estrepitosa carreira.
Conquistou em 1955 o prêmio Marsotto, pela pintura européia e representou a França na Bienal de Veneza, em 1968.
De 1967 à 1969 encontra na Renault a abertura para fazer uma série de acumulações, que colocada no pavilhão francês da exposição universal de Montreal.


Christo

Chisto Javacheff - nascido em 1935 - é um escultor e designer búlgaro, que a partir de 1964 passa a morar em Nova York. Trabalhou em muitos lugares pelo mundo fazendo a interação entre os avanços tecnológicos do séc. XX, da era industrial, com a era pós-industrial e com uma fome de por beleza e pela natureza.
Teve a idéia é interferir na paisagem usando “materiais reais num mundo real” quando ainda era estudante da Academia de Artes em Sofia. No entanto não trabalha exclusivamente no mundo selvagem.
Com uma engenharia criativa e intuitiva enfrenta problemas por ter que tomar cuidado para não causar impactos ambientais e nem interferir nas atividades diária das cidades, onde realiza suas obras. É conhecido principalmente como criador da arte da “empaquetage”, que consiste em embalar objetos familiares com plano, lona ou plástico transparente, elevando-os à categoria de obra de arte.
Em 1958 fez seu primeiros objetos empacotados, que inicialmente tratavam-se de coisas pequenas. Com o tempo os objetos escolhidos foram se tornando cada vez maiores e mais pretensiosos. Embalou vitrines, árvores, carros, monumentos arquitetônicos e até contornou ilhas.
Segundo sua teoria a embalagem transforma temporariamente os objetos praticamente escondendo-os e chama a atenção para as formas fundamentais sob a embalagem. Para ele não é o que o artista faz mas assim o que ele aponta que dá real valor à obra.
O trabalho final questiona a noção de permanência da arte , pois suas esculturas, ao ar livre, tem uma vida limitada proposital e duram por no máximo duas semanas.
É preciso lembrar que Christo passou anos pedindo permissões, para órgãos públicos e para proprietários particulares, para poder realizar suas obras. E segundo ele o progresso e processo de cada projeto é parte fundamental da escultura final.


César

A primavera de 1960 foi, sem dúvida, muito importante para César que teve a oportunidade de expor um dos seus trabalhos, denominado “As Compressões”, no Salão de Maio em Paris.
Essas compressões evidenciam a passagem de um artífice clássico (formado com escultor tradicional) a uma dimensão superior da visão e também o possibilitam compreender a nova fase do metal. Foram dois anos de estudo, pesquisando as possibilidades do material – compressões controladas – no entanto o artista rejeitava fazer uma receita de linguagem ou estilo.
Este período produtivo de César durou até 1962, quando entrou em crise, só retomando seu trabalho em 1964.
Cinco anos depois criou uma escultura, de dois metros, de seu polegar e mais tarde um seio feminino. A marca humana foi só uma fase.
Em 1967 César apresentou uma nova etapa de trabalho, “As Expansões”, que consistiam em grandes pingos de poliuretano cristalizados no ar - eram formas simples e belas.
A expansões públicas percorreram muitas cidades pelo mundo - Paris, Rio de Janeiro, Montevidéu, Londres e outras.
Em 1970 expôs, no Centro Internacional de Artes Contemporânea de Paris, expôs expansões plásticas monumentais.
O escultor faleceu em 1998 aos 77 anos de idade.

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-> O Vazio

A exposição, do dia 28 de abril de 1958 na Galeria Iris Clert - Paris, de paredes rigorosamente nuas trata de uma etapa fundamental no desenvolvimento da obra de Yves Klein.
As paredes do espaço foram pintadas de branco, com a mesma técnica utilizada em seus quadros monocromáticos, para ressaltar a luminosidade e captar a vida desta “não cor”.
Para Pierre Restany “O maravilhoso de Klein é a natureza e seu teatro de eventos.
“Cada acontecimento, manifestação da energia universal, é uma obra real como toda a natureza, mesmo se se coloca momentaneamente no exterior das dimensões dos nossos sentidos, no real absoluto, o espaço infinito, o vazio.”
O vazio representa a totalidade espacial, de uma realidade ao mesmo tempo tangível e incomensurável. Esta realidade, desmedida, identifica-se com o espaço conceitual da comunicação.
O que se torna relevante é a passagem da monocromia ao imaterial. Talvez esta passagem tenha se dado anteriormente quando Klein, ainda jovem, perdia o olhar entre o céu e o mar. Ele se apropriava do céu, de sua cor e dimensão de infinito.

O Vazio, 1958 - Galeria Iris Clert




Wall of Oil Barrels ->

Na noite de 27 de Junho de 1962, durante 8 horas, Christo e Jeanne Claude fecharam a rua Visconti - a mais estreita de Paris - para o tráfego, cortando a ligação entre as ruas Bonaparti e Sein.
A obra tinha 240 tambores de óleo (cada um com capacidade 50L) e a media da rua, de 3,8 metros.
Os artistas optaram pôr não alterar as cores industriais dos tambores, deixando visíveis os escritos e a oxidação
O projeto para esse trabalho foi feito em 1961, junto com outros protestos que ocorriam em Paris devido a Guerra e a construção do Muro de Berlim.
Essa obra se relaciona a um período de arte pública e à transformação de uma rua em extremidade inoperante. Este princípio pode estender-se a uma área inteira ou a uma cidade ira.

Wall of Oil Barrels, 1962 - Tambores de capacidade 50L, ( várias cores), empilhados formando uma parede de ferro de 4,3 x 3,8 x 1,7 metros (14 x 12,5 x 5,6 pés). - Musée d'Art Moderne de la Ville, Paris


Beuys: "A revolução somos nós!"


DW-WORLD.DE
23.01.2006


"Joseph Beuys morreu no dia 23 de janeiro de 1986, exatamente 20 anos atrás. Museus em Berlim, Munique, Düsseldorf, Bonn e Kleve dedicam exposições em homenagem a um dos mais influentes artistas do século 20.
É difícil dissociar a pessoa Joseph Beuys (1921–1986) de sua obra. Até a marca registrada deste artista-personagem de si mesmo – o chapéu Stetson ­– fazia parte de um amplo programa estético: "Neste momento, eu mesmo sou a obra de arte. Apenas insinuo uma direção no desdobramento, ou seja, indico que, nesta realização de tornar o mundo uma obra de arte, qualquer pessoa pode fazer parte, em potencial. Daí toda esta história de chapéu, que encaro como a tragicomédia da arte do nosso tempo".

"Qualquer pessoa é artista"
Com esta famosa máxima, geralmente mal entendida, Beuys se aproximava da concepção de arte do movimento Fluxus, do qual fez parte, mas também se manteve distante. A idéia era abolir a hierarquia entre artista e observador, produtor e consumidor, destacando o papel ativo e criador da recepção.
Apesar de o Fluxus europeu, cujo importante centro foi Düsseldorf, cidade onde Beuys vivia, ter optado por não incluir o público diretamente em seus happenings, ao contrário da corrente americana, o impulso era promover o observador participante a co-autor da obra.

Contraditoriamente, Beuys foi um grande encenador de sua imagem como artista à parte, com sua aura messiânica, verve de pregador e iniciativa de líder político. Com uma "concepção de arte ampliada" e a idéia de "escultura social", o artista radicalizou as fortes tendências artísticas dos anos 60 que priorizavam o processo de criação e de atuação política à criação de um objeto de arte consumível.

"Os mistérios ocorrem na estação ferroviária"
O ativismo de Beuys, que a partir de 1961 assumiu a cadeira de Escultura da Academia Estatal de Arte de Düsseldorf, onde ele mesmo havia estudado, se mesclou ao movimento estudantil. Em 1967, Beuys criou o Partido Estudantil Alemão, em reação ao assassinato do estudante Benno Ohnesorg, baleado pela polícia numa manifestação em protesto à visita do xá do Irã Reza Pahlevi, em Berlim.

Contrário à submissão da educação a estruturas institucionais, Beuys começou sua guerrilha dentro da universidade onde ensinava, permitindo em sua classe alunos reprovados no exame de aptidão. Em 1972, após ocupar a secretaria da universidade com um grupo de estudantes reprovados, exigindo sua admissão, Beuys foi demitido do cargo pelo então secretário de Ciência e Pesquisa do Estado da Renânia do Norte-Vestfália e futuro presidente da Alemanha, o social-democrata Johannes Rau.

"Democracia é uma coisa engraçada"
Após uma longa disputa jurídica, onde contou com o apoio público de artistas e escritores como Gerhard Richter, Heinrich Böll e Peter Handke, Beuys foi reabilitado, reassumindo sua cadeira em 1978. A carreira política do artista prosseguiria com as candidaturas ao Parlamento da Europa (1979) e à Assembléia Legislativa da Renânia do Norte-Vestfália (1980) pelo recém-fundado Partido Verde. Sua missão educativa se expandiria com a criação da "Universidade Internacional Livre", palco de muitos de seus projetos e atuações.

Ao mesmo tempo em que propagava uma democracia de base, uma reivindicação central de agrupamentos fundados por ele, como a Organização dos Não-Eleitores (1970) e a Organização por Democracia Direta através de Plebiscito, entre outros, Beuys era criticado por seus correligionários por seu suposto messianismo, prática demagógica, intolerância e tentativa de personalizar em sua própria figura ações coletivas.

"O cosmos é o enigma; o ser humano, a solução"
Não são poucas as histórias que contribuíram para a criação da aura em torno de Beuys. Mas há uma fundamental. Nascido em Krefeld, em 12 de maio de 1921, ele optou espontaneamente por lutar na Segunda Guerra, sendo recrutado em 1940.
Em 1943, o avião de guerra onde ele fora escalado como operador de rádio caiu na Criméia, onde foi salvo por nativos. Segundo sua versão da história, considerada fantasiada por alguns, o que o salvou foi o fato de os nativos tártaros o terem coberto de gordura e enrolado em feltro.

Feltro, gordura, cobre e cera, materiais básicos na obra de Joseph Beuys, são recombinados nos mais diversos objetos, instalações e performances, ao lado de materiais perecíveis, que sujeitam o objeto de arte à transformação ao longo do tempo.
Por maior que seja a ênfase na matéria, os processos invisíveis implícitos na concepção de suas obras, derivados da alquimia e da antroposofia, atribuem um caráter ritualístico ao processo de criação artística, transferindo para o objeto uma força a ser retransmitida ao receptor.

"Arte = Capital"
Entre as idiossincrasias de Beuys está a mistura de repertórios dificilmente compatíveis, pelo menos no senso comum: simbologia cristã e marxismo, Ocidente e Oriente (uma junção cristalizada na idéia ampliada de Eurásia, presente em algumas de suas performances e instalações), mitologia celta e Fluxus, um ecletismo também evidente no repertório das suas referências históricas, teológicas e estéticas, de Ignácio de Loyola, fundador da Companhia de Jesus, a Gengis Khan, soberano mongol, passando pelo gângster americano John Dillinger e o marco da literatura moderna James Joyce.

Apesar de ter aberto caminhos fundamentais para a arte contemporânea com sua "concepção de arte ampliada", Joseph Beuys dificilmente pode ser imitado, sem que o imitador caia em epigonismo. Talvez pelo fato de o seu trabalho ser tão radicalmente uma conseqüência direta da sua pessoa.

"Minha arte é política de libertação"
"Assim como o ser humano não existe, mas tem que surgir primeiro, a arte também tem que surgir, pois ainda não existe", diz uma das máximas do artista, para quem o objeto de arte não deveria se prender a nenhuma regra apriorística ao processo de criação. "Intuição em vez de livro de receitas", diz a outra máxima.

A obra de Beuys, representada nos mais importantes museus internacionais de arte moderna e contemporânea, está em grande parte concentrada nos arredores de Kleve, no oeste alemão, onde ele viveu. O museu de arte do Castelo Moyland, nas imediações, tem o maior acervo do artista, seguido pelo Museum Kurhaus Kleve, o Block Beuys, em Darmstadt, os museus de arte de Bonn e Düsseldorf, Museu Ludwig, em Colônia, e Galeria Staedel, em Frankfurt. O museu de arte contemporânea Hamburger Bahnhof, em Berlim, abriga o arquivo de mídia do artista."

Simone de Mello

A 'documenta' de Kassel, um panorama

DW-WORLD.DE
23.06.2007


"A 'documenta' existe desde 1955. Depois de 11 edições até hoje, a mostra se tornou uma das exposições de arte moderna e contemporânea mais importantes e reconhecidas em todo o mundo.
documenta – O artista e curador nascido em Kassel Arnold Bode quis, em 1955, fazer uma mostra paralela à exposição bienal de jardinagem e paisagismo, a Bundesgartenschau (Buga), que colocasse em evidência a arte proscrita pelo nazismo como "arte degenerada". Cerca de 130 mil visitantes apreciaram as 670 obras de Ernst Barlach, Vassily Kandinsky, August Macke e outros.

documenta II – Depois do sucesso da mostra que contava com obras, em parte, de mais de dez anos de existência, em 1959 seguiu-se à documenta de Bode a primeira mostra realmente de arte contemporânea. As obras de Marc Chagall, Oskar Kokoscha, Emil Nolde e outros, somando quase 389 artistas expositores, foram vistas por 134 mil pessoas.


documenta III – Foi a última documenta dirigida por Bode, que levou cerca de 1.450 obras a Kassel. Por questões de organização, a mostra, que deveria ser quadrienal, só ocorreu em 1964. Duzentos e oitenta artistas atraíram 200 mil visitantes. O destaque ficou para a "arte cinética", com várias obras em movimento.

4ª documenta – Um "conselho da documenta", de 24 membros, entre eles ainda Arrnold Bode, dirigiu a exposição no emblemático ano de 1968. A abertura foi conturbada e a mostra girava em torno da pop art, de happenings e da arte de ação. O número de visitantes ficou em torno de 220 mil.

documenta 5 – A mostra de 1972 foi uma das mais importantes da história da documenta. Harald Szeemann transformou a própria exposição em objeto artístico. Joseph Beuys inaugurou o primeiro núcleo de sua "Organização pela Democracia Direta através do Plebiscito", os hiper-realistas ou (fotorrealistas) foram os que mais chamaram atenção dos 228 mil visitantes.

documenta 6 – No ano do falecimento de Arnold Bode, a documenta teve sua primeira edição depois que se assumiu como mostra qüinqüenal. O curador Manfred Schneckenburger apresentou pela primeira vez aos 343 mil espectadores a Honigpumpe (bomba de mel) de Beuys, a instalação do americano Walter de Maria Vertikale Erdkilometer (Quilômetros verticais da Terra), até hoje na paisagem de Kassel, e uma escultura de laser de Horst H. Baumann.


documenta 7 – Na documenta dirigida por Rudi Fuchs em 1982, que foi vista por quase 380 mil pessoas, Kassel recebeu dois de seus símbolos atuais. Um bem visível, a grande picareta (Spitzhacke) de Claes von Oldenburg, e um mais sutil, o projeto dos 7 mil carvalhos (7.000 Eiche), de Joseph Beuys.

documenta 8 – Mais uma vez dirigida por Schneckenburger, essa edição atraiu quase 475 mil espectadores. No ano de 1987, os visitantes da documenta viram, acima de tudo, performances e videoarte, além da Guillotinen-Reihe (série de guilhotinas) de Ian Hamilton Finlay. A "d8" foi denominada um "evento para as massas" , mas também criticada de arbitrária.

documenta IX – Jan Hoet convidou 189 artistas, que trouxeram mil obras. Seiscentas mil pessoas quiseram conferir a primeira documenta depois da Queda do Muro. A obra mais popular da histórica edição de 1992 foi o Man walking to the Sky, de Jonathan Borofsky, de 25 metros de altura.

documenta X – O ano de 1997 teve, pela primeira vez, uma mulher à frente da documenta. Catherine David levou a Kassel 120 artistas e 700 obras, que receberam 630 mil visitantes. A "última grande exposição de arte do século 20" tinha uma proposta retrospectiva. Era a primeira vez que a internet estava na documenta.


documenta 11 – O nigeriano Okwui Enwezor foi, no ano de 2002, o primeiro curador não-europeu da documenta. Ele se limitou a 118 artistas – o menor número de toda a história – e atraiu 650 mil espectadores – o maior número de toda a história."

Yves Klein

IKB 3

O Monocromático

No dia 28 de abril de 1928, em Nice, nasce o filho de Frédéric Klein, paisagista e de Marie Raymond, pintora da Art informel. Yves viveu em Paris de 1930 à 1939 e costumava passar os verões em Cagnes-sur-Mer.
Termina os estudos em plena Segunda Guerra Mundial e começa a pintar. Desde cedo, Klein, usa a cor e rejeita as linhas e desenhos. No entanto é só na década de 50 que vai se destacar.
Fora da França as pinturas azuis - “meditação perante a cor do céu” - ficaram mais famosas.
Em 1947 conhece Claude Pascal e Armand Fernandez. Se tornam grandes amigos e juntos praticam alquimia,, Judô, meditação, tocam jazz, dançam e planejam viajar o mundo.
Após terminar o serviço militar Yves parte para a Inglaterra com Claude e em Londres (1949- 1950) aprende técnicas com Robert Savage (amigo de seu pai).
Em 1952 depois de passar pela Itália (onde já havia estado em 48) e pela Espanha segue para o Japão. Lá apresenta painéis monocromáticos, numa exposição particular e tira a faixa de 4o Dan do Judô.
Na sua primeira exposição pública, em Paris (1955), o conceito de Klein - “A cor pura representa por si própria algo” - não convenceu e embora ele acreditasse que as cores tivessem vida própria o público via, em sua obra, apenas um “arranjo arquitetônico de cores”.
Em fevereiro de 1956, já na segunda exposição são explicadas as propostas monocromáticas e a aceitação é bem maior. Em agosto do mesmo ano o artista participa do Festival de Arte de Vanguarda, em Marselha.
A fase mais marcante de Yves Klein foi, sem dúvida, a Época Azul, onde ele na “Busca da infinitude” tenta “unir o céu e a terra”. É nesta época que se aprofunda sua busca monocromática (agora apenas com o azul).
A primeira exposição da proposta monocromática - época azul - ocorreu em 1957 em Milão, depois foi para Paris, Düsseldorf e Londres. Yves (“o monocromático”) alcança o sucesso, como se colocasse sua assinatura no céu.
No verão de 1957 conhece, em Nice, Rotraut Uecker. Eles se apaixonam e no dia 21 de Janeiro de 1962 se casam.
No seu trigésimo aniversário, em Paris, inaugura uma exposição que levou o nome de “O Vazio”. Onde buscou retratar a “Época Pneumática” retirando toda a mobília da galeria e pintando as paredes de branco, com a mesma técnica utilizada em seus quadros, para ressaltar a luminosidade e captar a vida desta “não cor”.
Arman (Armand Fernandez), dois ano mais tarde, apresenta a exposição “O Cheio” - como resposta - ocupando a galeria até o teto com objetos.
Na terceira crise cardíaca, em 6 de Junho de 1962, Yves Klein morre. Rotraut terá, o único filho do artista, alguns meses depois.

-> Análise da obra “IKB 3” de Yves Klein

Usando o pigmento, que demorou um ano para desenvolver com a colaboração do químico Edouard Adam , Klein obtém um azul único que patenteou como Intenational Klein Blue.
A obra demostra os objetivos do artista - que dizia : “O azul não é mensurável como as outras cores”- e queria extinguir a linha do horizonte, tornando tudo azul.
Como para Yves Klein cada cor tem vida e representa algo é natural que ele desenvolvesse uma cor especial para suas obras. O azul de Klein é como um filho que reflete sua imagem e representa uma visão de mundo.

-> Ficha técnica da obra analisada:
IKB3, 1960. Pigmento puro azul e resina sintética sobre tela , montado sobre madeira , 199 X 153 cm. Paris , Musée National d’Art Moderne, Centre Georges Pompidou.
Mavi

Rebecca Horn

Rebecca Horn é predominantemente escultora e cineasta. Nasceu em Michelstadt, na Alemanha, em 1944. Quando criança seu pai contava histórias de bruxas, dragões e duendes, que a amedrontavam e geram traumas para a vida toda.
Estudou, a principio escondida, arte em Hamburgo e viajou para Londres e NY. Começou a fazer esculturas corporais no fim dos anos 60 – Nas quais fixava objetos ao corpo humano.
Ao confeccionar esculturas, de poliester e vibra de vidro, inalou a fumaça dos materiais, danificando gravemente seus pulmões. Enquanto se recuperava, numa clínica, tentou se comunicar com os outros apesar do isolamento e criou uma série de desenhos e esculturas do corpo, com tecidos e ataduras.
A relação entre o corpo físico e os ambientes se tornou constante em suas obras; em muitas de suas esculturas, fotografias e filmes existe uma ligação entre movimentos humanos e aparatos tecnológicos; geralmente transmitindo os traumas de infância - ansiedade, medo de voar, resistência em colocar luvas e claustrofobia. Pode-se notar também uma afinidade com a Boby Art dos anos 60.
Em 1970 criou Der Überströmer (o trasbordante) onde tubos transparentes, com líquido vermelho, insinuavam um sistema circulatório externo - sobre o corpo nu de um homem. Das Einhorn (o unicórnio), também do mesmo ano, traz uma mulher com uma enorme agulha de madeira presa como um chifre. Ambas as obras mantém os participantes isolados, tratam de experiências sensuais-erótica e do sofrimento metal e físico. ‘O Unicórnio’ a rendeu um convite para o Documenta 5, em Kassel.
Horn, nos anos 70, fez uma performance chamada Die Bleistiftmaske (a máscara de lápis de grafite). Lápis eram adaptados ao rosto, através de uma estrutura de tecido, que conforme os movimentos da atriz desenhavam na parede.
Buster’s Bedroom, de 1990, tem um apoio mecânico que desempenha um papel em pé de igualdade com a atriz. A cadeira de rodas, movida a motor, tem um braço mecânico que ergue copos de uísque aos lábios de Geraldine Chaplin.
Usando vários objetos - como facas, ovos, malas, tesouras, pena, violinos, escovas – tenta expor suas essências e não seus aspecto físico; eles convocam à vida sem que tenham vida por si mesmos.

Robert Morris


No dia 9 de fevereiro de 1931, na cidade de Kansas, nasceu Robert Morris.
Após estudar engenharia voltou-se para a arte e a crítica de arte, escrevendo, em 1966, uma tese de mestrado sobre Brancusi.
Nos anos 50 Morris se interessou pela dança, ao viver em San Francisco com sua esposa - a dançarina e coreografa Simone Forti.
Durante os anos 60 e 70, Morris teve um papel central em definir três movimentos artísticos principais do período: esculturas minimalistas, arte processual e earthworks.
Morris exibiu as quatro partes em NY, 1964 e 1965, usando elementos múltiplos, separados, idênticos, retangulares ou cúbicos. A forma neste trabalhos é um dado das unidades individuais e ao mesmo tempo algo implicado na relação entre as unidades. Na Segunda metade dos anos 60, Morris explorou processos industriais mais elaborados para seus trabalhos minimalistas, usando materiais tais como o alumínio e aço. Como estas fabricações industriais, uma série de esculturas Neo-Dada-Dada, criadas nos anos 60 desafiaram também o mito da auto-expressão artística. Isto inclui auto-retratos irônicos e eletroencefalogramas.
Nos anos que se seguiram a madeira compensada e o aço deram lugar aos materiais macios. Entre estes materiais estão o feltro, que Morris empilhou, que o levou a outro tipo de trabalho mais voltado para o processual, que ele chamava de “antiforma”. Como um tipo de performance, esse trabalho não tem forma fixa mas uma série de instâncias. A composição resulta processo que envolve uma ação (respingar, derramar ou derrubar) e um material não rígido (tinta fluída ou feltro maleável). Essa foi a primeira vez que o artista associa seu trabalho à pintura e não à escultura.
Uma de variedade destes trabalhos estiveram, em 1968, na galeria de Leo Castelli , NY. Os projetos subseqüentes, de Morris, feitos durante o final dos anos 60 e começo dos 70 incluíram instalações de interior, com materiais inortodoxos como a sujeira e fiapos.
Desde os 1970s, Morris explorou meios variados como desenhos, earthworks, instalações do espelho, pinturas e carcaças de Hydrocal e de fibra de vidro; nos temas que variam do holocausto nuclear às investigações filosóficas
Ludwig Wittgenstein.

Rachel Whiteread

Whiteread é um dos maiores nomes da escultura inglesa. Suas obras se concentram, desde 1988, em enfocar o ideal dos objetos, materializando o que não se vê, tornando vivo o vazio dos objetos do cotidiano - como o espaço debaixo de uma cadeira ou de uma mesa; o que acaba trazendo a discussão estética e artística para um campo muito próximo do público.
Alguma das esculturas são de gesso com técnicas de moldagem, criando um estilo particular de esculpir. Para o curador Paulo Venâncio Filho "os objetos têm escala e dimensões humanas, refletem suas funções e a intimidade que têm com nossa vida. São testemunhas silenciosas de momentos privados do dia a dia de cada um de nós. Coisas domésticas, banais. O tamanho de um quarto esculpido por Whiteread, por exemplo, corresponde ao espaço que necessitamos para circular e guardar nossas intimidades".
Rachel, que também trabalha com desenho, foto e vídeo, despertou as atenções em 1993, com um trabalho que ficou conhecido como House. A obra foi feita com um molde de cimento, do interior de uma casa vitoriana. A controvérsia em torno da sua existência foi tão grande que teve sua destruição decretada pelo Parlamento Britânico.
Outro trabalho de relevância foi Ghost. Se trata de um grande cubo de gesso, composto por vários cubos menores dispostos uns sobre os outros de forma organizada e precisa. Há um espaço almofadado que sugere uma porta, que não pode ser aberta; no lugar da maçaneta há um orifício. É o fantasma de um quarto, daí o seu título.
A artista sabe muito bem de seu papel na arte contemporânea e utiliza-se de todos os recursos para isso. Para o curador, as obras de Whiteread "expõe a solidão do mundo contemporâneo. – É impessoal, crua, sem cor, como uma televisão desligada. É forte, instigante. Nos remete ao universo da casa, nos mostra os espaços que utilizamos e não percebemos. Ela molda os sinais das nossas marcas inconscientes".
A memória e o registro da transitoriedade vem à tona através do negativo dos espaços, formas, objetos e vestígios dos dias. A exclusão dos lugares, onde se podia percorrer, dá vez à uma concretude radical. O espaço interno de um quarto se torna um bloco de gesso. Portanto, a impossibilidade de existência nesses ex-lugares documenta a subversão da idéia confortante da segurança entre quatro paredes de que “a minha casa é o meu castelo”.

Folha de S.Paulo - 10 aspectos da arte contemporânea



10 aspectos da arte contemporânea
Cacilda Teixeira da Costa, especial para a Folha de S.Paulo, 28/09/2004

1 - Em 1910, o russo Wassily Kandinsky pintou as primeiras aquarelas com signos e elementos gráficos que apenas sugeriam modelos figurativos, uma nova etapa no processo de desmanche da figura, que se iniciara com Pablo Picasso e Georges Braque, na criação do cubismo, por volta de 1907. Assim, a abstração, uma representação não-figurativa —que não apresenta figuras reconhecíveis de imediato— tornou-se uma das questões essenciais da arte no século 20. Movimento dominante na década de 1950, a abstração pode ser conhecida também em livros como "Abstracionismo Geométrico e Informal", de Fernando Cocchiarale e Anna Bella Geiger (Funarte, 308 págs., esgotado).
2 - A "arte concreta", expressão cunhada pelo holandês Theo van Doesburg em 1918, refere-se à pintura feita com linhas e ângulos retos, usando as três cores primárias (vermelho, amarelo e azul), além de três não-cores (preto, branco e cinza). No Brasil, o movimento ganhou densidade e especificidade própria, sobretudo no Rio e em São Paulo, onde se formaram, respectivamente, os grupos Frente e Ruptura. Waldemar Cordeiro, artista, crítico e teórico, liderou um grupo com o objetivo de integrar a arte a aspectos sociais como o desenho industrial, a publicidade, o paisagismo e o urbanismo. Para saber mais, consulte o site do Itaú Cultural (
www.itaucultural.org.br) e o livro de Helouise Costa "Waldemar Cordeiro e a Fotografia" (Cosac & Naify, 78 págs., R$ 37).
3 - O grupo Neoconcreto teve origem no Rio de Janeiro e teve curta duração, de 1959 a 1963. Ele surgiu como conseqüência de uma divergência entre concretistas do Rio e de São Paulo. Em 1959, Ferreira Gullar publicou um manifesto onde as diferenças entre os grupos são explicitadas, e a ruptura se consolidou, gerando um movimento brasileiro de alcance internacional. Entre os artistas mais conhecidos estão Hélio Oiticica e Lygia Clark, além do próprio Gullar. Três excelentes introduções são "Etapas da Arte Contemporânea" (Revan, 304 págs., R$ 48), de Gullar, "Neoconcretismo" (Cosac & Naify, 110 págs., R$ 59,50), de Ronaldo Brito, e "Hélio Oiticica Qual É o Parangolé?" (Rocco, 144 págs., R$ 24,50), de Waly Salomão.
4 - A aparição da pop art (ou novas figurações), na Nova York do final dos anos 50, foi surpreendente. Longe de ser uma representação realista dos objetos, ela enfocava o imaginário popular no cotidiano da classe média urbana e mostrava a interação do homem com a sociedade. Por isso, tomava temas de revistas em quadrinhos, bandeiras, embalagens de produtos, itens de uso cotidiano e fotografias. No Brasil, interagiu com a política e teve em Wesley Duke Lee, Antonio Dias, Nelson Leirner, Rubens Gerchman e Carlos Vergara seus expoentes. O site da Tate Gallery (
www.tate.org.uk) traz bons exemplos internacionais.
5 - A arte conceitual trabalha os estratos mais profundos do conhecimento, até então apenas acessíveis ao pensamento. Nascida no final dos anos 1960, ela rejeita todos os códigos anteriores. No Brasil, o movimento conceitual coincidiu com a ditadura militar (1964-1985), e a contingência lhe deu um sentido diferente da atitude auto-referencial, comum nos outros países. Um dos artistas brasileiros mais ligados ao conceitual é Cildo Meireles, cujo trabalho foi estudado pelo crítico e curador americano Dan Cameron, em livro que leva o nome do artista (Cosac & Naify, 160 págs., esgotado). "Poéticas do Processo: Arte Conceitual no Museu" (MAC-USP/Iluminuras, 197 págs., R$ 33,60), de Cristina Freire, traz visões mais gerais do movimento.
6 - A presença do objeto na arte começa nas "assemblages" cubistas de Picasso, nas invenções de Marcel Duchamp e nos "objets trouvés" (objetos encontrados) surrealistas. Em 1913, Duchamp instalou uma roda de bicicleta sobre uma banqueta de cozinha, abrindo a rota para o desenvolvimento dessa nova categoria das artes plásticas. Hoje em dia, os "ready-mades" —obras que se utilizam de objetos prontos— já se tornaram clássicos na arte contemporânea. Por aqui, a essas experiências começaram a ser realizadas somente nos anos 60, com os neoconcretos e neofigurativos.
7 - As instalações se caracterizam por tensões que se estabelecem entre as diversas peças que as compõem e pela relação entre estas e as características do lugar onde se inserem. Uma única instalação pode incluir performance, objeto e vídeo, estabelecendo uma interação entre eles. O deslocamento do observador nesse espaço denso é necessário para o contato com a obra, e é assim que a noção de um espaço que exige um tempo passa a ser também material da arte. Para um passeio virtual, visite o site do Museu de Arte Contemporânea (
www.mac.usp.br).
8 - Na forma como o compreendemos hoje, o "happening" surgiu em Nova York na década de 1960, em um momento em que os artistas tentavam romper as fronteiras entre a arte e a vida. Sua criação deve-se inicialmente a Allan Kaprow, que realizou a maioria de suas ações procurando, a partir de uma combinação entre "assemblages", ambientes e a introdução de outros elementos inesperados, criar impacto e levar as pessoas a tomar consciência de seu espaço, de seu corpo e de sua realidade. Os primeiros "happenings" brasileiros foram realizados por artistas ligados ao pop, como o pioneiro "O Grande Espetáculo das Artes", de Wesley Duke Lee, em 1963.
9 - Da integração entre o "happening" e a arte conceitual, nasceu na década de 1970 a performance, que se pode realizar com gestos intimistas ou numa grande apresentação de cunho teatral. Sua duração pode variar de alguns minutos a várias horas, acontecer apenas uma vez ou repetir-se em inúmeras ocasiões, realizando-se com ou sem um roteiro, improvisada na hora ou ensaiada durante meses. O precursor das performances no Brasil foi Flávio de Carvalho, que, em 1931, realizou sua "Experiência Número 2", caminhando em meio a uma procissão de Corpus Christi, em sentido contrário ao do cortejo e vestindo um boné. Sobre o artista, ver "Flávio de Carvalho" de Luiz Camillo Osório (Cosac & Naify, 120 págs., R$ 59,50).
10 - De difícil veiculação pela TV comercial, a videoarte tem sido divulgada pelo circuito tradicional das galerias e museus. Além dos pioneiros, Wolf Vostell e Nam June Paik, destacaram-se inicialmente as pesquisas de Peter Campus, John Sanborn, Gary Hill e Bill Viola, que tem um bom site (
www.billviola.com). No Brasil, as primeiras experiências foram realizadas nos anos 1970 e apresentadas por artistas como Anabela Geiger, Sonia Andrade e José Roberto Aguilar.

Pierre Restany

Para atingir o seu objetivo básico - que é a comunicação com o público - a arte não deve se render, a uma sociedade de apropriação dos meios de produção.Porque se a arte é fundamental para a humanidade... Se você acredita que é, se acredita que ela pode ensinar alguma coisa... E ao mesmo tempo acha normal um quadro custar mais do que a maioria das pessoas ganham, no ano inteiro... Ou na vida. Então existe uma grande contradição!Questionar o mundo... Fazer as pessoas verem as coisas de outras maneiras, não deveria ter a ver com o quanto cada um tem numa conta bancária!! O que estou dizendo é: Independente do que seja... Se a arte busca se comunicar com o público não deveriam existir barreiras financeiras pra que isso ocorra!Pierre Restany escreveu, em 1968 um “manifesto por umaarte independente”; “por uma arte total”. “A independência da arte - para a revolução; a revolução – para a libertação definitiva da arte”
Com a necessidade de assumir certas escolhas em comum foi fundado o grupo dos novos realistas, que se anunciaram ao mundo - com uma declaração escrita pelo crítico Pierre Restany - no dia 27 de outubro de 1960, em Paris, no apartamento de Yves Klein. O grupo contava com a presença de Arman , Dufrêne, Hains, Martial Raysse, Spoerri, Tinguely, Villeglé e Klein. César e Rotella , que haviam sido convidados, não estavam presentes mas participaram das sucessivas manifestações do grupo, às quais se uniram a seguir Niki de Saint-Phalle (1961), Chisto e Deschamps (1962). Na ocasião foram feitos sete manuscritos originais da declaração em papel azul, um em folha de ouro (menogold) e um em folha rosa (menopink).Em torno do pólo Klein - com seu misticismo, domínio das sensibilidades e sua teoria de comunicação por impregnação - reuniram-se os membros da escola de Nice: Arman e Martial Raysse. Arman, com sua lógica rigorosa de uma linguagem quantitativa e Martial Raysse, com uma sofisticação da natureza procuravam, junto com Klein, definir um modo geral de comunicação, uma síntese da expressão. Mais tarde se unem a eles César, com suas compressões e Chisto, “especialista em pacotes”.
O novo realismo busca ir “além da pintura” é um estado de espírito, o gesto fundamental de apropriação do real contemporâneo ligado a um fenômeno quantitativo de expressão, um ponto de vista , uma “higiene da visão”. Trás uma nova metodologia de percepção, um novo modo de ver baseado na constatação de uma natureza moderna e na rejeição da abstração livre da época, a fim de fazer uso dos objetos disponíveis em geral do material proveniente do ambiente urbano.
Pierre RestanyArtista marroquino (nascido em 1930) formou-se em Letras, Estética e História da Arte, realizando seus estudos na França, Itália e Irlanda. Participou pela primeira vez da Bienal de São Paulo em 1961 e no ano seguinte, na Bienal de Tóquio. Restany nos alertava sempre para o real, dos olhos se voltando para a realidade e da necessidade que ele percebia de se voltar para a participação do público.Pierre é um dos mais conhecidos críticos de arte. O seu nome está associado à fundação do Novo Realismo ( Noveau Réalisme) e a nomes de importantes artistas, entre os quais esta Yves Klein. Faleceu em 29 de maio de 2003, em Paris, aos 72 anos de idade. As propostas do grupo de Restany transformam-se em intervenções, cada vez mais conhecidas como: os “pacotes de Christo” e verdadeiras ações-espetáculos. Em síntese o grupo, que tem como um dos lideres o crítico Restany, procura desenvolver ações sobre uma questão chave: O que é Novo Realismo? Um novo aproximar-se perceptivo do real.
Restany apresentou ao mundo o caminho para a obra - show- espetáculo e desde a década de 60. Era um entusiasta das novas conquistas do homem, como a energia atômica, a automação e as navegações interplanetárias. Segundo ele o Novo Realismo: “Não é mais um luxo do espírito, mas uma necessidade do ser. A moral do homem de hoje é uma moral de comportamento, fundada não sobre a transcendência nem sobre a referência aos dogmas ideológicos, mas sobre um novo contato social ligado à exigência de sobrevivência. Sem esse axioma humanista não existe mais pensamento criativo concebível." "... A arte de vanguarda não é mais uma arte de revolta, mas uma arte de participação popular. Como assegurar as condições dessa participação? Voltando à realidade direta, a do nosso presente. Arte de comunicação de massa, arte da Segunda Revolução Industrial é uma arte popular por necessidade histórica".


Mavi

Alguns sites:
http://www.macvirtual.usp.br/mac/templates/exposicoes/exposicao_homenagem_pierre/exposicao_homenagem_restany.asp
http://www.mac.usp.br/projetos/arteconceitual/restany.htm